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sexta-feira, 9 de maio de 2025

YOR - O CAÇADOR DO FUTURO / YOR - THE HUNTER FROM THE FUTURE / IL MONDO DI YOR (1983)

 

UMA SALADA DE GÊNEROS, AINDA QUE ADAPTADA DE UMA HQ ARGENTINA

Em tempos imemoriais, Kalaa (Corinne Cléry) e Pag (Luciano Pigozzi com o pseudônimo de Alan Collins) estão em apuros com o surgimento de um furioso Triceratops. A dupla é salva por Yor (Reb Brown), que dá cabo do dinossauro. O jovem caçador é convidado pela dupla para ir à aldeia e conhecer seu povo de caçadores/coletores. Pouco tempo depois, o local é invadido por um grupo hostil de Neandertais chamados “Homens Azuis” que mata a maioria dos aldeões e sequestra suas mulheres. O trio participa do confronto conseguindo escapar, mas o líder dos invasores, Ukan (Aytekin Akkaya), deseja o reluzente “amuleto” que Yor carrega no pescoço e Kalaa.

 

Yor é um guerreiro que vaga por terras desconhecidas em busca de sua origem e de seu povo. Ele se revela fisicamente diferente e sente que não pertence aquele lugar. Ao ficar sabendo que uma rainha de um povoado hostil carrega o mesmo tipo de amuleto, decide procura-la, na esperança de encontrar sua origem, sempre acompanhado da apaixonada Kalaa e do protetor desta, Pag. O trio terá que enfrentar vários obstáculos até encontrar o local que revelará muito mais do que a origem de Yor.

“Yor - O Caçador do Futuro” teve seu título brasileiro adaptado da versão internacional (“Yor: The Hunter From the Future”), pois o filme é uma coprodução entre Itália, França e Turquia, rodada nesta última (em Istambul, nos Estúdios A.F.M), cujo o nome é “Il mondo di Yor”, que faz mais sentido, pois veremos nos próximos parágrafos que o protagonista não veio do futuro através de uma máquina do tempo ou outra invenção criativa dos produtores.

Na verdade, o filme se baseia em uma HQ argentina, muito interessante, chamada “Henga, el Cazador” (1974) e que, na Itália, recebeu o nome de “Yor, il Cacciatore”. A estória foi escrita por Juan Zanotto (vivendo na Argentina, mas nascido na Itália - 1935-2005) e Ray Collins (nome de batismo do argentino Eugenio Juan Zappietro - 1936). Mas não é apenas isso. O filme é também uma condensação, em 89 minutos, de uma minissérie produzida em 4 capítulos, em torno de 46 minutos cada. Por isso, podemos entender porque o filme muitas vezes parece ter certa falta de continuidade. Esse corte, a partir de um original de 3h 30 min, se tivesse mais 10 minutos, ficaria mais coeso, mas não necessariamente melhor, visto que a minissérie estica demasiadamente certos eventos. Em compensação, as cenas de confronto são mais longas. Mas não se enganem, Yor é mal produzido, mal dirigido e com atuações bem abaixo, de todo o elenco. É um filme Trash, que por ser tão ruim, para muitos, ganhou um status cult.

Em comparação com a HQ, podemos dizer que os produtores até buscaram algumas sequências desta e fizeram o que podiam (ou o queriam) com o orçamento disponível, trocando um Tiranossauro por Triceratops; suprimindo um Mamute congelado (não havia dinheiro nem CGI na época), aranhas gigantes, crocodilos pré-históricos e um tigre dente de sabre, mas mantendo alguns arcos como: os dos “Homens Azuis” (devido a tinta que usavam no corpo ou é radiação); a rainha que Yor conhece (só que os súditos são “mutantes” com uma bandagens ao invés de pigmeus – mais econômico e prático – e Pag, na HQ, é bem pequeno, comparado a Yor e Kalaa); a queda de Yor no penhasco; como Yor salva Kalaa das garras de Ukan. Há até a cena com um Pterodáctilo, mas o que é levado às telas talvez seja a cena mais lembrada por sua criativa bizarrice. A briga de Kalaa e Roa e o surgimento dos remanescentes dos homens azuis também foram retratados, assim como o povoado da praia e o seu relato (ficou apenas no relato, infelizmente) sobre o confronto com “deuses que caíram do céu”. Entre a saída do trio desta última tribo à chegada na misteriosa ilha que Yor buscava, houve uma supressão inteira de um arco na qual a dupla é capturada e Yor e depois de acasalar com as guerreiras, seria sacrificado, mas escaparia (os produtores certamente não queriam aumentar a faixa etária do filme, que apesar do que possam imaginar, em nenhum momento, tal qual a HQ, há nudez). Mas é no ultimo arco, a “Cidade dos Deuses” (a cidade da HQ é altamente tecnológica) que muita coisa muda, conceitualmente, dos quadrinhos para as telas, pois os produtores resolveram dar um ar de “Star Wars”, com robôs tendo visual de Darth Vader (inspiração do filme "O Humanoide" de 1979?) e um vilão que lembra uma mistura do Imperador (na verdade me lembrou um Sith, mas eles não existiam na tela) com um Dr. Destino da Marvel. E dá-lhe tiros, com feixe de laser verde para os mocinhos e vermelhos para os vilões. Na HQ, Yor descobre se chamar Askar (nas telas colocaram Asgard) e ser descendente de uma raça que veio de outra galáxia (atlantes de Marte) para a terra selvagem, uma raça que tentou indiretamente evoluir o ser humano. Acabaram se acostumando a violência e aos vários defeitos humanos, sendo contaminados. Ao invés de ajudar a raça humana, o “Senhor Supremo” resolveu escraviza-la até que Thor, líder da resistência, resolveu confrontá-lo com o trio envolvido no conflito. A HQ realmente é muito boa.

Mas agora vou falar da minissérie. Em comparação com filme é mais completa, porém não é melhor. O contexto fica mais claro, as sequências fazem mais sentido, diálogos explicam uma coisa aqui e outra ali. Mostrada em capítulos, na TV italiana, deve ter agradado (dizem que a exibição da minissérie pela rede Rai italiana, veio anos depois do filme). Eis aqui alguns pontos constantes nessa minissérie: Logo após Yor matar um dinossauro e ir para aldeia, há uma celebração com música. As danças são mais longas, assim como a batalha e uma explicação de Yor ao chefe da tribo de que não se lembra de sua origem. A perseguição ao trio dura mais tempo. Yor quebra galhos e coloca um pedaço da roupa de Kalaa para direcionar seus perseguidores para outro caminho, fazendo com que alguns caiam em uma areia movediça. Há uma cena engraçada: Yor carrega Kalaa pelo pântano em seus braços e quando esta diz que esse costume em seu povo significa que a ama, ele a solta repentinamente com ela caindo nas águas (ficaria legal no filme). Há uma longa cena com Pag retornando à aldeia e fugindo de um grupo de azuis por dentro de um vulcão com um rio de lava, o que explica como parte do grupo reencontrou Yor.

Quando acordam, Yor e Kalaa seguem pelo pântano sendo atacados por uma criatura com tentáculos (dá para entender porque não entrou no corte final para o filme). Depois de se livrarem definitivamente dos Homens Azuis, há uma longa sequência na floresta, quando entram em uma caverna e encontram facas e roupas de frio, enquanto na versão dos cinemas, sobem escadas e saem direto em um local montanhoso e árido (já com as tais vestes, parecendo um erro de continuidade). Yor e a dupla se separam e, novamente, há uma longa sequência que ficou de fora com o guerreiro explorando um caminho. Há uma sequência na qual Yor dá um presente para Roa (Ayshe Gul), escolhendo-a em detrimento de Kalaa; a luta com o líder dos azuis é muito mais longa. Na versão dos cinemas, Pag diz a Yor que Kalaa pescou os peixes que estão na fogueira, mas na versão da minissérie, vemos que foi ele quem realmente pescou e falou para Yor para este valoriza-la mais. Tarita (Marina Rocchi), a jovem da aldeia de pescadores, celebra a união de Yor e kalaa em uma caverna.  Kalaa se despede de Arnita dizendo "vita longa i fellicci" que em inglês se transformou em "vida longa e próspera", uma citação direta ao Sr Spock de “Jornada nas Estrelas” e que foi retirada do filme; na minissérie, ao chegarem na praia, Pag e Kalaa veem uma nave voando e pousando, na versão do cinema eles só veem a nave pousada e soldados robôs saindo dela. 

ESTE PARÁGRAFO CONTÉM SPOILERS:

A versão cinematográfica de Yor se destaca por ter um ritmo mais ágil e frenético, mas antes de citar alguns absurdos, devo lhes dizer que o cartaz é chamativo, mas tal imagem não existe, nem o herói tem cabelo curto (o personagem está com uma peruca) e nem a mulher do cartaz está no filme. Vamos a alguns absurdos desta semi-adaptação indicada a três Razzie Awards (pior nova estrela, pior canção e pior partitura musical): A música "Yor's World" é definitivamente um diferencial do filme, provavelmente com o estilo sugado de Flash Gordon  (1980) do grupo Queen. Só faltou um “Yor! A-ah” nos momentos que o herói entra em ação (o filme já começa com a música, mas acho que ficaria melhor nos créditos finais, apesar de na minissérie, todos os capítulos começarem com a música com as cenas iniciais). Durante o salvamento de Kalaa, Yor inunda a caverna dos homens azuis sem se importar com as outras mulheres da tribo de Kalaa capturadas, ou seja, todas devem ter morrido (???!!!); aliás, esse elenco das cavernas tem um vocabulário bem moderno para a época em que viviam, conheciam até o termo proa (Ok, a revelação no arco final da estória pode ser uma explicação), fora que Yor pega numa arma laser, não se surpreende e ainda tem uma mira perfeita; há a cena de luta na caverna com os homens das espadas de fogo (tais espadas parecem inspiradas em Hercules -1983) que parece ter sido filmada em câmera lenta, mas se observarmos bem eles estão simulando estarem em câmera lenta !! Na cena mais bizarra, Yor abate o que seria algo próximo a um Pterodáctilo (na HQ), mas que se parece com um morcego gigante. O corpo da criatura enrijeceu instantaneamente, ao ponto do nosso herói utiliza-la como asa delta (acreditem !!! e com direito a tal música – me lembrou também “Doc Savage” – a partitura triunfal). Eles não conheciam aerodinâmica, nem aviões, mas asa delta pareceu algo muito natural de ser feito!!! Apesar de não vermos salões de belezas, as principais atrizes têm seus cabelos impecáveis, bem ao look anos 80, fora que Yor tem o rosto sempre impecavelmente barbeado. Nem vou me alongar nas criaturas, apenas confiram. A Cidade dos Deuses é nitidamente uma fábrica; e como Yor consegue o conhecimento para detonar uma bomba em escala nuclear, é um grande mistério. Kalaa e Roa lutando até a morte e depois Roa entregando seu amuleto para a rival foi muito forçado. E o que pareceu ser um Dimetrodon (o “lagarto”), é de um período diferente do Triceratops do início do filme, mas quem se importa? E o mais importante (se é que há tal coisa no filme) é que Yor não veio do futuro. Houve um holocausto nuclear, e a civilização se dividiu, com uma parte regredindo a uma era pré-histórica (não me perguntem como surgiram os dinossauros) e a outra parte com os conterrâneos de Yor se isolando em uma ilha, preservando sua tecnologia em seus últimos dias. Para terminar, descobrimos que o “amuleto” é um gravador (com imagens) de tudo que aconteceu na vida de Yor até então. Há um momento em que Yor diz algo tipo “este sou eu quando jovem, me recordo”. Só que não há um Yor jovem na cena, é o mesmo que se apresenta durante o filme (falta de grana é isso).

Quanto aos atores, Reb Brown já havia participado (como vilão) de “O Homem Cobra”, dos dois “Capitão América” feitos para a Tv e vinha de uma participação em “A Espada e os Bárbaros”. O ator está engraçado, pulando daqui para ali, empunhado uma espada de forma bem lenta, mas apesar do visual “Beastmaster” ou “Kazar” (como ninguém fez um filme na época?) foi mal dirigido (todos foram) e fez o que pode. A francesa Corinne Cléry vinha de “A História de 'O'” (1975) e de “007 Contra o Foguete da Morte” (1979). A atriz desfilou sua beleza em cena e funcionou melhor na versão minissérie. Outro que teve mais tempo de tela na minissérie foi Luciano Pigozzi (1927-2008) como Pag. Seu simpático personagem não comprometeu. A também francesa Carole André (Ena) participou de alguns episódios do famoso seriado “Sandokan” (1976) com Kabi Bedi e de produções italianas. O ator turco Aytekin Akkaya como Ukan, líder dos Neardentais esteve bem, só este filme da qual participou é conhecido no Brasil.  John Steiner interpretou de forma exagerada (proposital?) e caricatural o ditador megalomaníaco “Overlord” ou “Senhor Supremo” para nós. A atriz Ayshe Gul, que interpretou Roa, não comprometeu e participou apenas desta produção. Luigina Rocchi interpretou Tarita (a jovem do povo da praia). A atriz atuou até 1989. 

Dirigido por Antonio Margheriti (1930-2002) de filmes como “Apocalypse 2 - O Último Caçador” (1980); “Os Caçadores da Serpente Dourada” (1982) e “Tornado: A Missão Continua” (1983), Yor – O Caçador do Futuro é uma bagunça do começo ao fim. Nos anos 80, só haviam os trailers dos cinemas para divulgação, cartazes de próximos lançamentos expostos e pequenas resenhas em revistas especializadas que davam alguma visibilidade aos filmes. Logo, muitos iam para o cinema sem saber o que assistiriam, e subprodutos de Conan, Star Wars, Rambo e filmes de ficção cientifica proliferavam nas telas (e tinha público!). A Itália era um local fértil para injetar no mercado internacional produções de baixa qualidade, dubladas em inglês, com um título em língua inglesa e pseudônimos para confundir os críticos. Yor é tudo isso, mas se você curte assistir a um filme trash, esse pode ser uma ótima pedida. Para os menos exigentes e para aqueles capazes de ligar o modo “supressão voluntária da descrença” pode ser um passatempo bem divertido, assim como para aqueles que buscam produções que caíram no ostracismo. Leia a HQ, assista ao filme e depois a minissérie.

 

Trailer:

 


 

Curiosidades:

Triceratops







Dimetrodon






 

A HQ Italiana

 













A HQ Argentina

 












Trilha Sonora 

Yor's World - De Angelis Bros

 

 

Cartazes:





Filmografias Parciais:

Reb Brown






O Homem Cobra (1973); Strike Commando - Comando de Ataque (1986); Amargo Reencontro (1978); Capitão América (1979); Hardcore - No Submundo do Sexo (1979); Capitão América II (1979); Goldie e o Pugilista em Hollywood (1981);  A Espada e os Bárbaros (1982); Yor - O Caçador do Futuro (1983); De Volta Para o Inferno (1983); Grito de Horror 2 (1985); Robowar - Robot da Guerra (1988); Lutadores da Liberdade (1988); A Jaula da Morte (1989); Intruder A-6: Um Voo Para O Inferno (1991); A Jaula 2 (1994); Night Claws (2012); Surge of Power: Revenge of the Sequel (2016) 

Corinne Cléry






Il sergente Rompiglioni (1973), A História de 'O' (1975), Um Blefe de Mestre (1976), E tanta paura (1976), E tanta paura (1976), O Fugitivo Sanguinário (1977), Striptease (1977), Insólito Encontro (1977), O Humanóide (1979), 007 Contra o Foguete da Morte (1979), Os Viajantes Noturnos (1979), Yor - O Caçador do Futuro (1983), Il mondo di Yor (Minissérie de televisão 1983), Divina Obsessão (1986), Paixão, Duelo e Morte (1988), Forever - Juntos para Sempre (1991), Erro Médico (1992), A Colônia (1995), Il diario di Matilde Manzoni (2002), Il peso dell'aria (2007), Beyond the Mist (2018), Free - Liberi (2020), De Volta ao Crime (2021), Ângela - O Anjo da Morte (2021) 

Luciano Pigozzi (1927-2008)






De Crápula a Herói (1959), Duas Mulheres (1960), As Últimas Aventuras de Dom Camilo (1961), A Face do Monstro (1961), A Freira de Monza (1962), O Chicote e o Corpo (1963), Seis Mulheres Para o Assassino (1964), O Castelo dos Mortos Vivos (1964), Império dos Espiões Assassinos (1965), Terror no Cemitério (1965), O Olho da Espionagem - O Agente Z-3 (1965), Fúria do Oriente (1965), O Mais Curto dos Dias (1965), Crime Quase Perfeito (1966), Mercenários do Crime (1966), Operação Ypotron (1966), Ray Master, Arrombador Internacional (1966), Golpe de Mestre a Serviço de Sua Majestade Britânica (1967), A Morte não Conta Dólares (1967), Os 7 de Ouro Assaltam o Banco Internacional (1967), Jovens, Malvados e Selvagens (1968), Sua Lei Era Vingança (1968), Caça aos Violentos (1968), Joko Invoca Deus... e Mata (1968), Os 5 Condenados (1969), Sabata, o Homem que Veio para Matar (1969), E Deus Disse a Caim (1970), O Alerta Vermelho da Loucura (1970), Encontro com a Desonra (1970), Sartana no Vale dos Gaviões (1970), O Fantástico Homem Invisível (1970), O Corsário Negro (1971), A Espada Normanda (1971), O Rei do Oeste (1971), O Pistoleiro do Inferno (1971), Que Assim Seja, Trinity (1972), Barão Sanguinário (1972), As Lágrimas de Jennifer (1972), Diário de um Gângster (1972), Sete Mortes nos Olhos de um Gato (1973), Fantasma de Biquini (1974), Mussolini - Ascensão e Glória de um Ditador (1974), A Lenda do Lobo do Mar (1975), A Cidade de um Justiceiro (1975), Os Amores e as Loucuras de Scaramouche (1976), Roma Armada (1976), Escapando do Inferno (1982), Os Caçadores da Serpente Dourada (1982), Yor - O Caçador do Futuro (1983), Os Exterminadores do Ano 3000 (1983), Tornado: A Missão Continua (1983), Il mondo di Yor (1983), Caçadores de Tesouro (1985), Missão Cobra (1986), Strike Commando - Comando de Ataque (1987), Comandos Mercenários (1987), Apache Branco (1987), Zumbi 3 (1988), Covil da Morte (1988), Robowar - A Caminho do Inferno (1988), Alien degli abissi (1989)

Carole André






Com Ele Cavalga a Morte (1967), Quando os Brutos se Defrontam (1967), Dillinger Morreu (1969), Satyricon de Fellini (1969), O Amor Faz Coisas Estranhas (1970), Morte em Veneza (1971), Uma Borboleta com as Asas Ensanguentadas (1971), Juventude Alucinante (1972), Um Verão Russo (1973), Sábado Infernal (1973), Caninos Brancos (1973), Superhuman (1979), Feliz Aniversário, Harvey (1980), Yor - O Caçador do Futuro (1983), Il mondo di Yor (1983), Missão Implacável (1984), Génération oxygène (1991)

Luigina Rocchi


 




As Mil e Uma Noites (1974), Busca sem Fim (1978), Holocausto Canibal (1980), Despido improcedente (1980), Fidelidade à Três (1982), Yor - O Caçador do Futuro (1983), Missão Implacável (1984), Os Executores (1989)

John Steiner (1941-2022)


 

 



Darling: A que Amou Demais (1965), A Perseguição e o Assassinato de Jean-Paul Marat Desempenhados Pelos Loucos do Asilo de Charenton Sob a Direção do Marquês de Sade (1967), O Diabo é Meu Sócio (1967), Eram 13... mas Faltava Uma (1969), Só Resta Esquecer (1971), O Monstro na Primeira Página (1972), O Carrasco de Roma (1973), Caninos Brancos (1973), Desafio ao Lobo Branco (1974), Bebê Infernal (1975), A Cidade do Crime (1975), Salão Kitty (1976), Gestapo - Esquadrão da Tortura (1976), Agente Duplo (1977), Calígula (1979), Apocalypse 2 (1980), A Salamandra (1981), Os Caçadores da Serpente Dourada (1982), Yor - O Caçador do Futuro (1983), Il mondo di Yor (1983), Inferno ao Vivo (1985), Berlin Affair (1985), Missão Cobra (1986), Contagem de Cadáveres (1986), Noite de Verão, com Perfil Grego, Olhos Amendoados e Cheiro de Manjericão (1986), Júlia e Júlia (1987), Striker - O Exército de um Homem (1988), Sinbad e os Sete Mares (1989), O Bordel de Paprika (1991)

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A GUERRA DO FOGO / QUEST FOR FIRE (1981) - FRANÇA / CANADÁ


O FUTURO COMEÇOU A 80 MIL ANOS ATRÁS

Há 80.000 anos atrás, em algum lugar não identificado do planeta, nos primórdios da idade do gelo, uma tribo chamada Ulam se refugia em cavernas na qual guarda o seu bem mais precioso: o fogo. Certo dia, o pequeno grupo é atacado pelos Wagaboo. Ainda que sobrevivam ao ataque, são obrigados a abandonarem o seu local e acabam por “perder” seu bem, que lhes garantiria a sobrevivência nos tempos gelados que se seguiriam.

Naoh (Everett McGill), Amoukar (Ron Perlman) e Nam (Naseer El-Kadi) partem em uma odisseia em busca de recuperar o fogo, mesmo sem saberem como. No meio do caminho, encontrarão tribos hostis, feras pré-históricas, mas também descobrirão a amizade, o amor e o sentido de grupo.

A Guerra do Fogo não teve uma vida fácil. O filme levou 4 anos para chegar às telas (3 anos de pesquisas e 1 de filmagem) e quase não saiu do papel quando os estúdios Columbia desistiram do projeto indo parar com a Fox. E há três semanas de se iniciarem as filmagens, houve uma greve da Screen Actors Guide, com a Fox saindo do projeto, fazendo com que um financiamento independente fosse buscado. A Internacional Cinema Corporation (canadense) viabilizou o arriscado projeto, no qual as frases para o filme eram inteligíveis ao espectador (os dialetos lacônicos e o uso da mímica foram de grande acerto). Um filme de imagens, sons e música. As filmagens seriam na Finlândia, mas a greve que atrasou o projeto, fez com que a Escócia fosse a escolhida enquanto as cenas africanas foram filmadas em Tsavo, ao pé da Montanha do Kilimanjaro, além de outras sequências realizadas no Canadá. Orçado em 12 milhões, foi um valor modesto, para os padrões de uma época cujo o cinema já voltava-se a efeitos especiais e especulações sobre o futuro.

O diretor Jean-Jacques Annaud (“O Nome da Rosa”, “O Urso”, “Círculo de Fogo”) era conhecido por um filme que ganhara o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro: “Preto e Branco em Cores” (1976). O roteiro ficou nas mãos de Gerard Brach (“O Inquilino”, “Repulsa ao Sexo” e “Tess”), um eventual colaborador, até então, do diretor Roman Polanski. A inspiração veio do livro “La Guerra Du Feu” do escritor belga J.H Rosny. Já a linguagem dos gestos, coube a Desmond Morris, zoólogo e escritor de “The Naked Ape” (“O Macaco Nu”), um estudioso do comportamento de primatas.

O diretor preferiu deixar em segundo plano os confrontos tribais e centrou o eixo da história em três pontos: uma excelente reconstituição do homem pré-histórico em seus primórdios; o modo como os Homo Sapiens, liderados por Naoh, interagem entre si e aprendem; e a busca por algo que eles não sabiam ser capaz de ser criado (o fogo). Ao trazer estes aspectos, Annaud nos coloca frente a frente com a nossa origem e esse pequeno grupo que se mantém naquele habitat (a Europa paleolítica) e que simboliza as várias tribos desses vários seres que habitaram a terra nos arbores da humanidade, uma era tão misteriosa e desconhecida quanto a que ainda está por vir. As tribos se dividem em 4 tipos: Os Ulam (os Homo Sapiens), os saqueadores Wagaboo (os Neardenthais); Os Ivaka (uma tribo mais evoluída que já sabe como criar o fogo, produzir objetos e pinturas e, conforme o diretor, também Homo Sapiens) e os Kzamm (que se tornaram canibais). No que resultaria um cruzamento entre os Ivaka e os Ulam?

O elenco era até então pouco conhecido, mas eram necessários aqueles com habilidades para comunicação não-verbal. Everett McGill (“Bala de Prata” e “A Força em Alerta 2”) interpretou o líder Naoh, que irá em busca do elemento sagrado, quase sobrenatural para sua tribo. Ele é um Homo Sapiens, ele vê e aprende. Será a raça dominante como a conhecemos. Ron Perlman (“O Nome da Rosa”, “Hellboy”, o seriado “A Bela e a Fera”), estreando no cinema, interpretou Amoukar que gosta de fazer travessuras e com seus gritos e gestos desafia os oponentes. O rosto do ator caiu muito bem no personagem. Naseer El-Kadi interpretou Nam que vai descobrir do que um urso é capaz. Rae Dawn Chong interpretou Ika, uma espécie de “Promethea”, pois após ser resgatada pelos Ulam, de uma tribo de canibais, ela os presenteará com o conhecimento de fazer o fogo. Sua tribo, Ivaka, é mais avançada. Parecem ser uma variação do Homo Sapiens que, em determinado momento, percebem que a sua tribo só sobrevirá se tiver guerreiros mais fortes. É também através de Ika que Naoh descobrirá a diferença de sexo e acasalamento. A atriz teve que fazer praticamente todas as cenas nua, apenas com uma pintura tribal.

Produção franco-canadense, rodada em três continentes e ambientado na aurora da humanidade, A Guerra do Fogo não deixa e ser uma ficção-especulativa da qual muitos dirão que precisarão da Suspenção Voluntária da Descrença para aceitar a história que deve ter levado gerações e gerações para se efetivar, mas o filme é menos uma pesquisa etnológica e mais uma fantasia sobre um evento que poderia ou não ter acontecido. Arnaud, 800 séculos depois, resolveu contar uma estória que nos mostra o surgimento do conceito de família, a descoberta do amor, a necessidade de dominar, de ser amado... pequenas descobertas, mas descobertas importantes, à sua maneira (e ainda atuais). Vale como fantasia e como ciência, regado de exuberante simplicidade, pitadas de humor e muita sensibilidade.

 

Trailer:

 


 

Curiosidades:

Tanto Ron Perlman quanto Everett McGill sofreram queimaduras de frio; felizmente eles conseguiram se curar completamente. Apesar das condições de trabalho, os dois gostaram de fazer o filme.

Dois ursos diferentes foram usados ​​para a sequência com o urso em uma caverna.

O cenógrafo pegou antraz ao manusear peles de animais não tratadas.

A maioria das cenas foi filmada em uma única tomada.

Ganhou o Caesar (Oscar francês) de melhor filme e diretor.

Premio de melhor filme internacional da Academia de Filmes de Fiçção-científica e Hollywood

Ganhador do Oscar de Melhor Maquiagem (Sarah Monzani e Michèle Burke)

Os mamutes peludos eram interpretados por 20 elefantes de circo. Os elefantes se estranharam com a "maquiagem", entraram em pânico e destruíram parte do material das filmagens

A cena de abertura pretendia ser apenas um teste e acabou sendo mantida porque ficou melhor do que o esperado.

Ron Perlman esperava que o filme não fosse melhor do que filmes pré-históricos como Mil Séculos Antes de Cristo (1966). Em suas memórias, ele confessou que isso o levou a ser desnecessariamente rude com Jean-Jacques Annaud durante o primeiro encontro. Em vez de se ofender, Annaud ficou fascinado pela franqueza de Perlman e (depois de se odiarem inicialmente no início das filmagens) os dois se tornariam amigos íntimos.

A língua da tribo Ivaka é derivada dos Inuit e Cree do norte do Canadá. O diálogo deles é realmente ininteligível em termos do enredo deste filme.

Rae Dawn Chong foi escalada como Ika principalmente porque ela se sentia completamente confortável em estar nua. Entre as cenas, ela permaneceu nua no set a maior parte do tempo, com maquiagem de corpo inteiro, para se manter no personagem.

A linguagem utilizada pelos homens das cavernas, que compreende todo o diálogo falado, foi criada por Anthony Burgess. Burgess é mais conhecido como autor do romance e filme Laranja Mecânica (1971), e criador da linguagem Nadsat, nele utilizada.

A tribo Kzamm foi interpretada por lutadores.

Os atores passavam por sessões de maquiagem de cinco horas todas as manhãs

O elenco foi originalmente adaptado para usar calçados, mas essa ideia foi rejeitada no início da produção.

Tudo no filme foi filmado ao vivo; Não houve efeitos ópticos feitos na pós-produção.

Este filme foi lançado nos cinemas sem legendas, mas a tecnologia de DVD e o uso comum de legendagem de filmes em DVD agora disponibilizam este filme com legendas (o que não acontecia com seu lançamento em videocassete doméstico). As legendas do DVD são títulos um tanto simplificados do diálogo pré-histórico.

Teve tanto sucesso na época de seu lançamento, tanto crítica quanto comercialmente, que o estúdio queria que Jean-Jacques Annaud retornasse para duas sequências, provisoriamente intituladas "Quest for Water" e "Quest for Iron". Ele recusou a oferta.

Iron Maiden, a banda inglesa de heavy metal, escreveu uma música sobre este filme usando o mesmo título em seu álbum "Piece of Mind" de 1983.


Everett McGill  em A Força em Alerta 2




 

 




Ron Perlman em Alien, A Ressureição








Rae Dawn Chong em Um Escola Muito Louca









Cartazes:



 

Filmografias Parciais:

Everett McGill 






Os Yankees Estão Voltando (1979), Union City (1980); Um Testemunho de Fé (1980); Brubaker (1980); A Guerra do Fogo (1981); Duna (1984); A Hora do Lobisomem (1985); O Destemido Senhor da Guerra (1986); Três Vidas em Fuga (1987); 007 - Permissão para Matar (1989); Twin Peaks (seriado 1989-1991); As Criaturas Atrás das Paredes (1991); Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992); A Força em Alerta 2 (1995); Meus Queridos Presidentes (1996), Jekyll Island (1998), Uma História Real (1999), Twin Peaks: O Mistério (2014); Twin Peaks: O Retorno (2017)

 

Ron Perlman 






A Guerra do Fogo (1981); Piratas das Galáxias (1984); O Nome da Rosa (1986); Sonâmbulos (1992); A Ilha do Dr. Moreau (1996); Alien - A Ressurreição (1997); O Guardião do Rei (2000); Círculo de Fogo (2001); Blade II - O Caçador de Vampiros (2002); Jornada Nas Estrelas: Nêmesis (2002); Hellboy (2004); Em Nome do Rei (2007); Hellboy II: O Exército Dourado (2008);    Outlander: Guerreiro vs Predador (2008); Caça às Bruxas (2011); Drive (2011); Conan, o Bárbaro (2011); Skin Trade - Em Busca de Vingança (2014); Stonewall: Onde o Orgulho Começou (2015); Punhos de Sangue (2016); Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016); Caçadores de Trolls: Contos de Arcadia (seriado 2016-2017);  Agente Asher (2018); Inferno na Fronteira (2019); Este Jogo Se Chama Assassinato (2021);  O Beco do Pesadelo (2021); Não Olhe para Cima (2021); Transformers: O Despertar das Feras (2023), Day of the Fight (2023), Plano de Aposentadoria (2023), Rastro do Dinheiro (2024), Os Provocadores (2024), Succubus (2024), Absolution (2024)


Rae Dawn Chong






A Guerra do Fogo (1981); Cidade do Medo (1984); Os irmãos Corsos (1984); Beat Street - Na Onda do Break (1984);  Comando Para Matar (1985); A Cor Púrpura (1985); Uma Escola Muito Louca (1986); Os Trapaceiros da Loto (1987); Um Diretor Contra Todos (1987); Contos da Escuridão (1990); O Esconderijo (1995); Cyrus (2010); Pegasus Vs. Chimera (2012); Renascida das Trevas (2018); American Crime Story (seriado 2016); We Are Gathered Here Today (2022); A entrevista de Anne Rice com o vampiro (série 2022)