sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

SEM AMOR / NELYUBOV / LOVELESS (2017) - RÚSSIA / FRANÇA / BÉLGICA / ALEMANHA


DIFÍCIL DE SER DIGERIDO


Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) estão se separando em um turbulento divórcio. Cada um está refazendo sua vida com um novo parceiro. O filho do casal, Alyosha (Matvey Novikov), de 12 anos, tornou-se um fardo e motivo de discussão quanto ao seu futuro.  Quando o menino percebe que seu destino poderá ser um reformatório e, posteriormente, o exército russo, resolve fugir de casa. Zhenya custa a perceber o desaparecimento e Boris parece mais interessado em seu novo relacionamento e nos problemas que sua separação podem repercutir em sua estabilidade no emprego.

Sem Amor é um retrato de uma sociedade em que casais que possuem filhos e que depois ninguém quer assumir o cuidado dos frutos do relacionamento.  O diretor Andrey Zvyagintsev resolveu mostrar, através de um relacionamento fracassado, um panorama da Rússia moderna. O filme se passa em 2012, percebidos pela discussão da Profecia Maia que falava do final do mundo. Mas o real apocalipse já vem acontecendo na vida do casal há anos. Zhenya odeia o marido de todas as formas. Olhar para o filho é a lembrança de Boris e de sua escolha equivocada de se casar. Ela agora possui um homem rico que, segundo a própria, lhe valoriza e que representa o que desejava. Boris vive com outra mulher e levar um filho para um novo relacionamento não faz parte de seus planos. Alyosha é um “objeto” que nenhum dos dois quer carregar consigo. E este percebe sua importância para o casal. Seu plano é simplesmente fugir e o faz.

 
A busca por Alyosha nos revela um sistema social caótico, onde a polícia só procura uma criança desaparecida quase depois de uma semana e aconselha casais a procurarem ajuda em voluntários de ONGS que  são bem dedicados e organizados no que fazem. Agora o descaso é do governo. Nesse novo ambiente muita coisa é revelada ao público e ao investigador: a família pouco conhece dos hábitos e do cotidiano do filho, o que revela ainda mais o quanto desamparada aquela criança se encontrava. A conversa do casal foi apenas um ponto de ignição para que este abandonasse um lugar que o abandonara a muito tempo. Uma mãe egoísta desprovida de instinto maternal e um pai ausente que apenas quer sair o mais rápido possível de um relacionamento catastrófico.


A fotografia é em tom hora cinza, hora azul escuro o que leva o espectador a refletir sobre o ambíguo ambiente gélido. Os diálogos são muitas vezes longos (mas particularmente os vi como necessários). O silêncio aparece muitas vezes nos enquadramentos parados, distanciando propositadamente os espectadores dos personagens.  O diretor  usa sua câmera para mostrar o quanto estão separados: a câmera alterna entre Zhenya e Boris e, raramente, vemos o casal em um take juntos. A pergunta que se fará em determinado momento é como um casal tão diferente pode se apaixonar. O diretor não deixa o espectador sem resposta e ela aparecerá novamente para surpreender o espectador


Agora não pensem que é um filme comum. Zvyagintsev  joga na cara do espectador, de forma primorosa, aquilo que ele não quer ver no seu dia a dia. É passado na Rússia, mas pode estar acontecendo nesse momento perto de você. É um filme hipnótico, frio melancólico, triste, ambíguo, seco... direto. A expectativa da solução deixa o espectador tenso. É um soco no estômago de quem está acostumado com filmes comuns. Aqui é sobre infelicidade. É sobre desamor. Sobre um casamento que nem deveria ter sido pensado.  É como a convivência pode gerar um ódio mútuo.  É sobre um casal que parece apenas buscar seu filho para dar uma satisfação à sociedade.



Sem Amor pode ser visto como um estudo dos relacionamentos conjugais atuais, onde  muitos casais vivem juntos, porém distantes num mundo mais próximo do virtual e, nesse meio, os filhos passam a ser apenas alguém a alimentar e dar estudo. Só o fato de podermos assistir obras de outros países que nos mostram comportamentos sociais já nos agrega muito em conhecimento, pois nos revelam que muitas vezes não há diferenças quando o assunto é desamor, desigualdade e falta de estrutura familiar. É um filme fácil de entender, mas difícil de ser digerido.


Trailer:


Curiosidades: 
Candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 2018

Premiações:
Cannes Film Festival 2017
European Film Awards 2017
Golden Eagle Awards, Russia 2018
Grand Prix de l'UCC 2018
International Cinephile Society Awards 2017
London Film Festival 2017
Los Angeles Film Critics Association Awards 2017
Motion Picture Sound Editors, USA 2018
Munich Film Festival 2017
National Board of Review, USA 2017
Russian Guild of Film Critics 2017
Zagreb Film Festival 2017

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